quinta-feira, 3 de março de 2011

Diário da motocicleta - Vamos de bicicleta!

Diário da motocicleta - Vamos de bicicleta

Está na hora de enfrentarmos a convivência com as motocicletas. Não é um tema só de São Paulo ou de cidades grandes. Até as cidades médias já sofrem por isso.
O pior problema da cidade, em abrangência e intensidade, é o trânsito. Atinge da classe A a Z, todo dia, por pelo menos 15 horas. Safa-se dele quem anda de helicóptero ou vive em casa.
No trânsito estão as motos. Motos por todo lado: pela esquerda, pela direita, irrompendo por entre os carros -nem sempre com espaço- avançando agressivamente sobre os pedestres, numa cidade já nada gentil.
Quem já não teve um espelho quebrado, uma porta chutada ou precisou pular de lado para não ser atropelado?
Nem todo motoqueiro é hostil. Mas boa parte é.
Duas abordagens extremistas não ajudam na solução: a) tratar os motociclistas como coitadinhos, que só têm esse procedimento porque são escravizados pelos patrões; b) considerá-los vilões exclusivos e não enxergar a real necessidade desse tipo de modal.
Nem coitadinhos, nem inimigos públicos.
Há uma terceira postura, essa a mais grave: fingir que o problema não existe. Deixar rolar, aplicando a solução orgânica: a própria natureza trata do assunto.
Dá no que dá: manchete da Folha, sábado, 26, no Cotidiano: "Motos matam um pedestre a cada três dias". A matéria mostra que 603 pessoas perderam a vida em acidentes envolvendo moto entre agosto/2009 e julho/2010: 139 pedestres, 399 condutores, 59 passageiros de moto, cinco ciclistas e um passageiro de carro.
Vidas desperdiçadas. Um absurdo. Que crescerá se não houver providências fortes, rápidas, rigorosas.
O primeiro ponto óbvio é rever o Código Brasileiro de Trânsito, que não está adequado à realidade das motos nas cidades. Segundo, melhor identificação dos motoqueiros, que criam a maior resistência para usarem coletes ou outras formas de identificação. Terceiro, aumentar a fiscalização e criar rotas específicas, além de entender o movimento e as necessidades de quem conduz uma moto.
Na verdade, cabe estruturar o cotidiano das motocicletas em toda a sua verdadeira dimensão, regulamentar e manter com firmeza as regras de convivência para todos. Como está, não pode ficar.
Editoria de Arte/Folhapress
Vamos de bicicleta
A bicicleta não é só um modal de transporte relevante. É um conceito de qualidade de vida.
Tornar a cidade acessível à bicicleta significa um cotidiano bem melhor. Menos pressa, mais contemplação, mais usufruto da cidade.
A bicicleta diminui a onipotência da máquina e coloca o ser humano mais no centro da vida urbana.
As cidades foram se tornando locais projetados ou adaptados para o carro. Não existe sinalização para pedestre nem para a bicicleta, como pleiteia constantemente a ativista Renata Falzoni. Quem não tem carro, para curtir a cidade, precisa se virar e enquadrar-se ao movimento deles.
Vários cruzamentos importantes não possuem tempo para pedestres. Eles têm que arriscar e atravessar durante o fluxo menor. É uma corrida aflita, todo dia, para ser. Ser alguém que deseja caminhar.
O caminho para uma metrópole mais amigável é criar uma infraestrutura ampla, geral e irrestrita para a bicicleta. Um sistema cicloviário que permita trafegar de bike pela cidade.
É lenda urbana, largamente difundida, que São Paulo não tem topografia para se andar de bicicleta. A cidade é mais de 60% plana ou tem aclives de até 3%, estima-se. Se implantarmos uma estrutura cicloviária nas marginais e as grandes avenidas de fundo de vale teremos quase 88% de destinos acessíveis. Restariam cerca de 12% do mapa com aclives acima de 6%, tranquilamente enfrentáveis por bicicletas com marchas e novas tecnologias.
Depois, seria completar com ciclovias, como as do Rio Pinheiros e da Radial Leste, além de ciclofaixas e ciclorrotas.
Não há nada que nos impeça fazer isso. Perto das obras viárias que são implantadas para carros e caminhões, o custo é baixo. E transformariam São Paulo de modo nunca visto.
Quem quiser poderá chegar ao destino de bicicleta. Hoje, temos mais de 350.000 viagens por dia; 70% por motivo de trabalho.
Este seria o passo mais importante para resolver o problema das motos. Elas permaneceriam com toda uma legislação nova adequada.
Todavia, centenas de milhares de viagens de motoboys seriam absorvidas pela bicicleta. Dentro do tempo necessário.
A bicicleta pode transformar as metrópoles. A bicicleta muda São Paulo.
Sobre a substituição de motoboys, veja a entrevista com André Pasqualini, do Instituto CicloBr:
Entrevista:
Qual é a ideia do projeto?
É um projeto social que visa ajudar jovens com dificuldade de emprego, colocando-os no mercado de trabalho como entregadores, e também uma alternativa para diminuir o número de motoboys na cidade.
Como funcionaria?
Atualmente existem algumas empresas que fazem serviço de bike-frete, a diferença das empresas de motoboys, é que essas empresas pegam serviços apenas dentro de um raio de 10 quilômetros. Quando a distância é maior eles indicam alguma empresa de motoboys. O custo da contratação de um ciclista gira em torno de R$ 20 por entrega, sendo que, da mesma maneira que os motoboys, apenas metade do dinheiro vai para o ciclista. Com isso, o ciclista que hoje precisa fazer 10 entregas para levantar R$ 100 num dia, poderá conseguir o mesmo valor pedalando menos, dando espaço para aumentar o número de ciclistas no sistema e consequentemente nas ruas, algo que será bom para todo mundo. Dentro desse projeto haverá também uma cooptação de motoboys que desejam mudar seu meio de transporte.
Para maiores informações, entre em contato com o Instituto CicloBR - André Pasqualini.
José Luiz Portella
José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras na Folha.com.

(de http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joseluizportella/883540-diario-da-motocicleta---vamos-de-bicicleta.shtml)

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